O Crucifixo
no Escritório do Advogado Criminalista
Warley Belo
Um cliente
veio em consulta e, ao final, já de saída, avistou a imagem de Cristo que tenho na
parede. Disse que se sentia mais tranquilo por estar diante de um cristão.
Despedi-me
sem, no entanto dizer – realmente – qual a extensão do significado de Cristo
num escritório de um Advogado. O momento não era propício, pois o
cliente vem em busca de alívio imediato, ainda que temporário. Mas, posso aclarar agora. Di-lo-ei
depois. Eventualmente.
O crucifixo
com Cristo, de presença constante nos plenários do júri e também nos tribunais,
não se trata de uma escolha religiosa. O Estado é laico. Todavia, a imagem nos
remonta a um clamoroso erro judiciário, cometido há dois milênios. Para os
jurados e juízes, uma advertência. Para os Advogados, uma lembrança.
Advertência
para que julguem com retidão, decidam com a devida prudência, em face da
lei. Se recusem a agir como Pôncio
Pilatos que, vislumbrando um inocente, “lavou as mãos”.
Lembrança para
que sejamos atentos. Há erros judiciários por falsas interpretações, mas também
por descaso dos julgadores.
O episódio
me fez lembrar a obra clássica do jurista italiano Piero Calamandrei – “Eles os
Juízes, vistos por um Advogado” (São Paulo: Martins Fontes, 1999) quando disse
sobre o assunto:
“O crucifixo não compromete a austeridade das salas
dos tribunais; eu só gostaria que não fosse colocado, como está, atrás das
costas dos juízes. Desse modo, só pode vê-lo o réu, que, fitando os juízes no
rosto, gostaria de ter fé na sua justiça; mas, percebendo depois atrás deles,
na parede do fundo, o símbolo doloroso do erro judiciário, é levado a crer que
ele o convida a abandonar qualquer esperança – símbolo não de fé, mas de
desespero. Dir-se-ia até que foi deixado ali, às costas dos juízes, de
propósito para impedir que estes o vejam. Em vez disso, deveria ser colocado
bem diante deles, bem visível na parede em frente, para que o considerassem com
humildade enquanto julgam e nunca esquecessem que paira sobre eles o terrível
perigo de condenar um inocente.”
No meu
caso, o Cristo está à minha frente. Atrás das costas, Themis.
Na gravura,
“Christ before Pilate” de Hans Multscher, 1437.
4 comentários:
Muito bacana esta explicação!!!
Meus parabéns!!!
Além de crer, achei muito válida a abordagem. Fraternais saudações.
Além de crer, consideramos muito eloquente a abordagem. Fraternais saudações.
bom saber como aluno do segundo periodo de direito,vivenciando um bom comentario,eu A.M.P
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